

Na casa de ladrilhos coloridos, o tempo parece estar parado. No jardim, a estátua grega estática assiste à passagem do tempo, enquanto o gato, vivo, mas que parece uma estátua, está estatelado na escada, espreguiçado no chão, e também não se move. Neste cenário, o tempo está suspenso e observando o que se sucede parece que invadimos uma intimidade sagrada onde tudo está perfeitamente estabilizado, harmônico. Diferentemente do jardim, a fachada parece ter camadas de intervenção, novos revestimentos que foram sendo colocados, nas mudanças dos donos ou da necessidade de novas resistências ao sol e às chuvas. Ainda assim, o painel de esquadrias de madeira, repleto de janelas de vidro, sobreviveu e as cortinas que atrás delas estão, escondem o que deveria ser uma sala enorme, com uma escada de acesso ao jardim. Imagino as festas que este jardim já guardou. Os aniversários. Os jantares. As pessoas. Tudo que não parece ser mais usado, toda uma permeabilidade social interdita por uma cortina.

